Salvação

- Mah, tcheeeee! - Gritou Eduardo, olhando seu computador reiniciar ao faltar luz pela quinta vez naquela semana.

Faltando pouco menos de um mês para a data de entrega de seu TCC, Eduardo não tinha tempo a perder. Precisava se concentrar, e a constante perda de trechos do seu trabalho final devido a reinício inesperado do seu desktop tinha que acabar!

Comprou um notebook, chegou em casa e se pôs a escrever, escrever, escrever, inspiradíssimo.

- Mah, tcheeeeeeeee! - Gritou Eduardo, olhando seu computador reiniciar ao voltar do banheiro.

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Dúvida

Durmir ou ficar acordado? Uma simples escolha pode mudar tudo. É um dilema, de fato. Bem real e normal, nos dias de hoje.

Durmo para descansar e poder trabalhar amanhã? Ou fico acordado me atualizando: lendo todos os blogs que posso, os livros de trabalho que empoeiram no meu criado-mudo, os livros de ficção entediados na minha prateleira, assisto aqueles filmes baixados, e já aproveito e vejo também os seriados, vejo o que está acontecendo com os meus amigos pelo orkut, me atualizo nas últimas do twitter, faço os uploads das minhas fotos no flickr, pego alguns cartões postais para enviar no postcrossing, vejo TV, leio a revista semanal, o jornal do dia, apago os spams do meu e-mail de trabalho, leio os meus e-mails pessoais, falo com os meus amigos no msn, mando algumas mensagens do celular, procuro infos sobre os cursos que pretendo fazer, vejo coisas sobre decoração, escuto música, baixo música, escrevo um contículo...

A Hora do Planeta

Desligou todos os eletrônicos de suas tomadas. Samuel sentou na casa completamente escura sentindo-se parte de uma comunidade global, uma força mundial que lutava por um planeta mais justo, mais econômico e mais saudável. Ele estava sozinho e, ao mesmo tempo, sintonizado com mais de seis bilhões de pessoas. Sentou na cama, fechou os olhos, respirou fundo e sentiu uma energia positiva percorrer cada centímetro de seu corpo. Meditou por mais de uma hora e voltou para a sala. Percebeu a economia que ia fazer, já que sua sala não continha mais nenhum móvel. Mais saudável, pois sua cozinha tinha sido saqueada. Não era justo que seu alarme também dependesse de uma tomada.

Bom moço

Rodrigo acordou ainda de madrugada. Levantou daquela cama devagar para não acordar a moça depois de uma noite agitada. Catou as suas roupas, se vestiu e saiu, deixando o dinheiro no criado mudo. Acreditava que 70 reais eram suficientes.

Pela manhã, a moça acordou, viu o dinheiro e agradeceu a Deus, lembrando da noite que passara.
- Ainda bem que o Guigo lembrou de deixar o dinheiro pro leite Nan do Mateusinho.

Destino

Saiu pensando no que tinha acabado de ouvir da vidente: "Muito dinheiro virá, de um modo rápido e imprevisto. Mas você não irá aproveitá-lo, pois, com ele, muita dor e sofrimento se farão presentes." Com a cabeça nas nuvens, imaginava as possíveis maneiras de receber uma grana: os devedores, a Megasena, talvez uma herança? Nem se deu conta do carro-forte que estava sem freios.

7 min

Já estava há 7 minutos na sala de espera. Levei o meu caderno de anotações, mas nada sai do lápis. Minha mente está tensa. Folheio revistas de fofocas, sem entender nada do que estou vendo. Uma, duas, três, quatro, cinco revistas. Cadê esse médico... Só falta o médico atrasar. Odeio quando o médico atrasa. E eles sempre atrasam. Na vida deles, 7 minutos não são nada. Pra mim, 7 minutos é uma eternidade. É só um exame de rotina, não é nada de mais. O problema não é a consulta, a sala ou esse médico (idiota) que ainda não chegou. O que realmente me incomoda é a espera.

Num piscar de olhos

De volta do trabalho, no caminho para a casa. Dirigia tranquilamente, mas sua mente ainda não tinha parado. Tudo passava por sua cabeça: agenda, compromissos, inquietações, medos, angústias, certezas... tudo estava lá. Junto com os sinais verdes, amarelos e vermelhos e com as faixas de pedestres, outros carros e passantes. De repente BAAAAAAAAAAAAAAAAAM. Sua mente inquieta, fez com que dirigisse de forma mais lenta. Foi a sua sorte. O carro de lá, queria aproveitar o finalzinho da sinaleira amarela. O carro de sua frente, com pressa, saiu logo antes mesmo que o verde aparecesse. Uma batida. Uma acordada. Bem na sua frente.

Lição de vida

Dona Genoveva finalmente se apaixonou. Depois de mais de sessenta anos, encontrou um parceiro que a levava para vários lugares, que conversava por horas e horas sobre as coisas mais banais. Seu Moacir lhe apresentava os melhores pontos da cidade, com o tradicional bom humor e o sorriso estampado no rosto. Se encontravam sempre nos mesmos local e horário. Depois de mais de sessenta anos, Dona Genoveva descobriu que o amor não era passageiro, era cobrador.

Criatividade

O autor desfrutava de um dos períodos mais criativos de sua vida!

Semana após semana enchia o seu editor de exemplares incrivéis das mais mirabolantes desculpas para justificar o atraso na entrega do novo capítulo.

Nova estação

Maria se viu no meio de uma pilha de folhas caídas pelo chão. Sentiu uma brisa suave acariciando o seu rosto e algumas folhas amareladas se moviam como se tivessem vida própria. Um sentimento de nostalgia, lembranças da infância, tomavam conta da mente de Maria enquanto ela cuidadosamente recolhia tudo para jogar no lixo. Finalmente tinha criado coragem para jogar fora toda aquela papelada guardada desde os tempos de escola.

O cavalo manco

Deoclécio afiou bem a faca e seguiu, a passos firmes rumo ao galpão. As bombachas traziam respingos de sangue de antigas castrações. Era hábil na arte de castrar potros, e aquele potrinho feio, manco e de pelo sujo seria apenas mais um a ser ´´beneficiado`` pela faca carneadeira. Num relance, um coice, e a faca parou cravada no cós da bombacha que, vermelhando, denunciava a tragédia....E Deoclécio, quem diria, de tanto castrar, um dia saiu castrado.

(por Rodrigo Bueno)

Medo

- ...de morrer?- perguntou a psicóloga
- Não. Isso eu sei que vai acontecer. Mais cedo ou mais tarde.
- Então, qual o problema?
- Tenho medo do incerto, do que não posso controlar.... de me jogar em algo, de cabeça, de verdade.
- Mas isso é a vida.
- Então, eu tenho medo de viver....

Vinganças Que Não Vingaram II

No jantar serviu ao marido uma terrina fumegante: o cheiro do tempero, das especiarias – e do veneno – escancararam-lhe o apetite. A fome capitulando ante a ameaça. E o canalha sobreviveu. Só depois chegou à conclusão de que de fato pratos quentes não combinam com vingança.

(por Chico Pascoal)

Vinganças Que Não Vingaram I

Arquitetou vingança sórdida contra seu pior desafeto: o prédio haveria de desabar e soterrá-lo sob toneladas e toneladas de concreto. A vingança, porém, não se concretizou. O prédio ainda resiste. Seu currículo de Arquiteto continua irrepreensível.

(por Chico Pascoal)

Café

Final do prazo para entrega do projeto. Não dormia há três dias, não tinha mais noção do tempo, só conseguia pensar naquele maldito projeto que não dava certo. Depois de muitas horas na frente do computador, entrou num transe, completamente psicodélico, e de repente surge a Britney Spears com a solução dos seus problemas. Acordou babando no teclado, um monte de letras aleatórias no meio do projeto, mas agora ele sabia o que fazer. Mais duas horas de trabalho e estaria pronto, bem na hora. Só não percebeu que apagara sem saber o email do professor, adiando a entrega.

Católico

Pagava o dízimo e abusava da enteada religiosamente.

Mau Humor

Lucélia estava naquelas dias. Péssimo humor. Tudo a irritada e a incomodava. Aquela chuva era perfeita. Mais uma desculpa para ficar trancada no quarto, deitada na cama, sem precisar falar com alguém. Ninguém entendia sua necessidade de isolamento. Mas era necessário. Era primordial. Era uma forma de passar aquela semana de provas. Depois tudo era festa.

Ser ou não ser...

...eis a questão. Mas será que essa é mesmo a questão?
Será que hoje é mais importante ser do que não ser?
Ou é melhor ter do que não ter?
A angústia é mesma, só que numa visão mais contemporânea.

Falta de preparo

Foi um jogo fora do comum. Fez um gol bonito atrás do outro, cada jogada bem trabalhada com os companheiros de time. Sentia os músculos prestes a se entregar devido ao esforço extremo, o corpo todo tenso. Com o apito final do juiz, finalmente conseguiu respirar aliviado. Só teve forças pra deixar um recado no Twitter: "Sou demais. Destruí no Winning Eleven. :)"

Pifou

- Acabou a bateria. A porta se fechou. O fusível queimou. Saiu e não voltou. Deu tilti. Offline...
- Tá joãozinho, para! Já entendi. Isso quer dizer que você não fez o dever de casa?
- ñ, sora. O trab ñ era sobre a nova língua port? Então, to te atualizando... é assim que a galera fala...

Maiô é motivo de lágrimas.

Sábado ensolarado. Acordamos quase meio dia e decidimos pular café da manhã e almoço para ir à praia aproveitar o calor. Em 50 segundos eu estava pronto para sair. Nesse mesmo tempo, Sydney já tinha experimentado 4 biquinis e se achado gorda em todos. "Coloca um maiô", sugeri para apressá-la. Naquele dia, o único mar que vi foi de lágrimas.

(por Diego Schutt)

Distância

Fernanda e Felipe sairam de férias e foram para o litoral. Desde que começaram a namorar, há pouco mais de 6 meses, era a primeira vez que passariam tanto tempo juntos, que conviveriam por 15 dias seguidos lado a lado, 24 horas um com outro, com suas manias e desejos.

Ao décimo-sexto dia vocês já imaginam o resultado: Fernanda e Felipe nunca mais se desgrudaram.

Tempos de Crise

Trabalhavam naquela grande empresa internacional. Ela, no jornal. Ele, no setor de informática. Quando a onda de demissões os atingiu, continuaram trabalhando juntos, em um outro local. Apenas diversificaram um pouco a atividade anterior. Durante o dia, ela fica na esquina vendendo jornal. À noite, ele faz programas.

Virado pra Lua

Amarildo era um cara de sorte. Ganhou numa rifa de Natal uma viagem com tudo pago para duas pessoas para Florianópolis. Não tinha quem levar até o dia anterior à viagem, quando conheceu uma modelo que estava de mudança para o seu edifício. O tempo estava feio mas foi só pisar na areia que o sol apareceu. Passou os dias bronzeando, mas nada de ficar de vermelho, ao contrário de sua companhia. E no quarto dia ela já começou a descascar. Brincando, Amarildo foi tirando uns pedacinhos da pele que se soltavam. Raspando e, numa raspadinha, ganhou um carro.

Movimento

As folhas sobem e descem, levantam e caem. Não muito longe dali, janelas abrem e fecham, criando um barulho incômodo para os que passam. Uma sacola plástica passea por entre as ruas, parecendo encontrar o seu próprio caminho. Cenas do cotidiano. Encontros e desencontros com o vento.

Por um mundo melhor

Ney estudou a vida inteira porque queria melhorar o mundo à sua volta. Deixou de sair com as meninas, de fazer festa com os amigos. Tudo valeu a pena quando completou o seu projeto: uma máquina do tempo. Como teste, resolveu presenciar o momento no qual seus pais se encontraram pela primeira vez. O surgimento de uma pessoa do nada no meio da rua causou um rebuliço, chamando a atenção de muita gente. E seus pais não se viram. E como não se conheceram, Ney simplesmente desapareceu na frente da multidão. No final das contas, o mundo virou um lugar melhor. Sem ele.

Um Menino Maluquinho

Ele tinha o olho maior que a barriga, tinha fogo no rabo, tinha vento nos pés, umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo), e macaquinhos no sótão. E aí, o tempo passou. E, como todo mundo, o menino maluquinho cresceu. Cresceu e entrou pro circo, onde encontrou outras aberrações como ele.

Tensão

Correria. Corre. Corre. Corre. Corre. Correria.
Acaba dia. Inicia outro dia. Acaba mais um. Inicia outro.
Come. Bebe. Fuma. Dorme. Acorda. Come. Bebe. Fuma. Dorme.
O tempo vai passando. Os dias vão passando. A vida vai passando.
Tudo ao mesmo tempo. Nada acontecendo.

Realidade

Feriado. Festas. Bebedeiras.
Final de Carnaval. Depois de tudo isso, Luis estava conformado com a volta a rotina. Agora eram mais festas e bebedeiras, como o segurança da mais badalada danceteria de Porto Alegre.

Quarta Noite de Carnaval

Era a última chance. Reginaldo cansou das fantasias, ia com uma camiseta, uma bermuda e havaianas. Botou o dinheiro num bolso, a chave de casa no outro. Chegando perto da festa, foi cercado por um grupo de pivetes. Em troca do dinheiro, ganhou um olho roxo, um dente a menos e uma camiseta rasgada. Mancando, foi até a festa pra pedir a ajuda dos amigos. "Precisa de cuidados?", disse uma voz suave ao seu lado. Esqueceu de tudo, acompanhado da sexy enfermeira.

Terceira Noite de Carnaval

Reginaldo é um brasileiro: não desiste nunca. Cortou o cabelo bem baixinho, colocou uns dentes falsos e um uniforme da Seleção Brasileira. Com aquela pequena protuberância abdominal, era uma cópia perfeita do antigo camisa 9. E lá no meio da festa encontrou uma Maria Chuteira. Mas foi só ficarem mais íntimos que ele percebeu. Assim como o original.